segunda-feira, 27 de novembro de 2017

RPG Tropa Estelar


          Como citado em post anterior, em 1995 criei um sistema de RPG com tema de ficção científica. Com forte influência de AD&D, o "Tropa Estelar" tinha a ambição de ser simples, utilizando apenas o dado comum de 6 lados. Foi uma criação para dar vazão à imaginação numa pegada leve e com o texto descontraído. Aliás, lendo agora (com meus 45 anos) vejo que ficou bem descontraído, nada como o primeiro 3D&T, mas com termos como "mentirolina", "reanimina" e "hatcolá" fica difícil levar muito a sério. Outra coisa muito interessante na escrita datada do sistema é que existem algumas páginas dedicadas a um "pequeno estudo de informática", onde explico (foi em 95, gente) conceitos como redes, estações de trabalho e servidores, necessários para um melhor entendimento de diferentes programas e um "espaço virtual", hoje facilmente reconhecido como o ambiente cibernético. Outra coisa que reparei é que não havia corretor ortográfico no Word 2.0, onde escrevi o texto. Tive que dar uma revisada para não passar vergonha ao postar o sistema AQUI para download!

 Tropa Estelar

          O jogo rendeu aventuras muito boas e movimentadas. O grupo era muito coeso e já tinha uma identidade, o que ajudou a dar forma rapidamente ao experimento. Foram boas tardes em Santiago-RS. Boas amizades que deixaram saudades. Ainda volto lá!


          Mais tarde, lá pelos idos de 2001, resolvi escrever um livro aproveitando esse universo como ponto de partida e acabei criando outro universo. Eu estava em outro momento da vida, morava em Recife-PE, tinha dois filhos e queria escrever algo mais sério, algo emocionante! Como o filme Tropas Estelares já havia estreado, a Tropa tornou-se a Legião e os conceitos mais brincalhões tornaram-se um pouco mais maduros. Algumas espécies ainda estão lá com os mesmos nomes, pois fui aproveitando as ideias que gostei livremente. É a vantagem de plagiar a si mesmo! Embora tenha tirado a ideia da estória do livro do conto que estava no RPG, o conceito mudou muito e deu origem a algo mais rico.
          Bom, deixei uma cópia em PDF do livro no Google Drive e fica aqui o LINK para qualquer um que queira conferir.

 



quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Guerra ao crime

          Testando uma abordagem de emprego da Legião Estelar em ambientes urbanos, escrevi este pequeno texto. Como uma tropa militar seria recebida em outro mundo para intervir em seus assuntos internos? Imaginei que seria mais ou menos assim:


Guerra ao crime


          É noite. Noite de emboscada... Todos da equipe estão posicionados... Arthos está com a metralhadora na saída três, Mordarch está no telhado com o fuzil de precisão, Jina travestida como mendiga permanece jogada no chão da saída um, Miaro está na nave monitorando. Ele é nosso trunfo secreto para o caso de tudo dar errado. E eu... Eu estou aqui, atrás desse tonel guardando a saída mais provável. E enquanto eu fico aqui revendo a situação pela nona vez, Trídia vem a nosso encontro em seu papel de isca viva.
          A luz de aviso silencioso do meu comunicador acendeu a meio minuto, indicando que a Sargento-mor Trídia permanece sendo seguida e está a metros daqui. Após três semanas de difícil intervenção na cidade, finalmente vamos apanhar o canalha. Ele já somou seis mortes em série por aqui e a polícia local não nos facilitou nada. Nada! Trídia acredita até que eles sonegaram informações. Sei que a Legião normalmente não é bem-vinda em comunidades agrícolas... Mas tudo tem limite e vou investigar se essa suspeita é verdadeira... logo depois de finalmente apanhar o desgraçado!
          Hoje o jogo termina. Já o perseguimos a meses e esse já é o terceiro planeta em que o localizamos. Ao todo foram trinta assassinatos computados. Talvez tenham sido mais. Todas as vítimas eram fêmeas... “profissionais da noite”. Todas acuadas em locais ermos como este. Todas esfoladas e mortas... nesta ordem!
          O miserável morre hoje! E ai de quem me jogar na cara as regras “pacíficas” de captura da Legião Estelar. Hoje não saio daqui com um prisioneiro!

sábado, 18 de novembro de 2017

Katarina

Nome: Katarina
Origem: Planeta Lar
Espécie: Humana
Grupo: Esquadrão Azul, Legião Estelar
Altura: 1,55 m
Peso: 39 Kg

Primeira aparição:
E-book "Batalha no Planeta dos Dragões" (Saraiva e Amazon).

Habilidades:
Piloto de A.N.A. (Armadura Neurocomandada de Ataque) e boa mira.

Equipamentos:
Pistola

Histórico:
Quando o narcotraficante Jobe executou um golpe de estado declarando-se presidente, explodiu quartéis das forças armadas, policiais e bombeiros. O pai de Katarina morreu nesses ataques, deixando-a desamparada e revoltada. Inicialmente alistou-se na própria guarda imperial, mas mudou de lado ao conhecer a proposta da Legião Estelar.


Citações:

"Quem foi a periguete?"

"Eu vou é despedaçar esse cara!"

"Não preciso ter peito, basta focar na maça de mira e puxar o gatilho!"

"Quer dizer que todos aqueles caras podem cuspir aquele tanto de fogo em nós?"

"Por mim a gente sobe logo e detona quem sobrou!"

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Bravo

Nome: Bravo Rorch
Origem: Lua Ruhir (Planeta Stom)
Espécie: Cror
Grupo: Esquadrão Azul, Legião Estelar
Altura: 1,80 m
Peso: 500 Kg

Primeira aparição:
E-book "Batalha no Planeta dos Dragões" (Saraiva e Amazon).

Habilidades:
Sobrevivência em selva, força sobre humana, piloto de A.N.A. (Armadura Neurocomandada de Ataque) e não dorme.

Equipamentos:
Bisturi minerador alterado como arma pesada de raios concentrados de energia.

Histórico:
Bravo é um dos poucos sobreviventes de sua vila, atacada por fenceres escravagistas. Entrou para a Legião muito jovem no dia em que Guiner o libertou, acabando com o garimpo do Império Jacal em seu mundo.

Citações:

"Meu nome é Bravo. E corta essa onde de "amigo", novato!"

"Lá vem mais más notícias!"

"Realmente não parece certo. Fica muito fácil!"

"Esse negócio de ficar fugindo e se escondendo não está dando certo!"

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Filme da Liga da Justiça (com spoilers) | Crítica


          E finalmente estreou o longa com o mais famoso grupo de super-heróis dos quadrinhos e desenhos animados. A Liga da Justiça está lá na telona depois de várias tentativas. Depois que a Marvel provou que era possível colocar vários heróis em um mesmo filme e apresentar entretenimento, coerência e lucro, a DC tenta emplacar o seu maior tesouro. E acertou mais do que errou. Depois de Batman vs Superman apresentar um Batman distante de todas as encarnações do "maior detetive do mundo" e O Homem de Aço nos entregar um alienígena que não inspirava esperança e nem podia ser chamado de escoteiro, a DC emplacou um excelente filme da Mulher Maravilha e credito a essa experiência os acertos no longa metragem da Liga.
          Já no início do filme temos um batman que lembra sua versão animada em "Batman: The Animated Series" e temos Denny Elfman trazendo sua versão do tema do homem morcego (Yes!). Melhor que isso só rever a Princesa Amazona em ação no melhor estilo "Sim, eu sou uma super heroína de gibi e faço coisas impossíveis, acostume-se com isso". A sequência com as amazonas é excelente, mostrando claramente que são todas mulheres maravilhas, mas aí aparece um componente que é uma perda clara de oportunidade de sucesso. Todo herói é medido pelo vilão que enfrenta e a DC nos traz um Lobo da Estepe que sim, é muito poderoso, mas que carece de grandiosidade e profundidade. Mesmo nos gibis os lacaios de Darkside nunca foram lá essas coisas, sendo mais maus e detestáveis do que outra coisa. São personagens criados para serem capangas, vivendo no entorno de seu líder. Foi melhor escolherem o Lobo da Estepe do que a Vovó Bondade, mas faltou aquele vilão que nós amamos odiar.
          Batman ainda não é o cruzado encapuçado nem o cavaleiro das trevas, mas vemos uma melhora no icônico personagem. A irreverência de Bruce Waine está de volta e Ben Affleck parece mais à vontade e menos depressivo. A culpa ainda está lá, mas tem que estar. A violência excessiva com marcadores de ferro em brasa sumiu. É uma melhora muito bem vinda. Ah, e tem o tema do Batman de 1989... Opa, já falei isso.
          Barry Allen não é o herói maduro que dá sua vida em Crise nas Infinitas Terras, parecendo mais com o Flash do desenho da Liga da Justiça. Esse é um ponto positivo, pois o desenho era ótimo e deixou saudades sem limites. Ainda no início da carreira, Barry ainda não atravessa paredes ou dá sequências de socos, mas já é o homem mais rápido do mundo. Afinal, Kal El é de outro mundo. :)
           Cyborg, que para mim ainda é dos Novos Titãs, é apresentado no melhor estilo Novos 52 e funciona muito bem. Sem grande perda de tempo em contar sua origem, vemos sua jornada rapidamente o levar a ser ferramenta crucial para uma Liga da Justiça do século 21, com sua conexão alienígena à informática ele invade os computadores da Batcaverna praticamente sem perceber.
          Senti falta do Hal Jordan, mas entendo que apresentar mais esse herói nesse momento seria um desafio ainda maior. Tem o detalhe do filme infeliz com Ryan Reynolds também e sabemos que além de entretenimento, um filme é um projeto milionário que precisa gerar lucro. Ok. Mas faltou. Foi uma falta amenizada pelo Lanterna Verde do flashback do passado da Terra, mas é a Liga da Justiça. Faltou o Lanterna.
          Eu avisei no título que haveria spoilers! Pode parar de ler se não viu o filme! E sim, temos o Superman. Henry Cavill volta à vida mais rápido que uma bala e enfrenta toda a Liga em uma cena digna do herói. E aqui cabem dois comentários. O primeiro é ver o último filho de Krypton acompanhando a velocidade do Flash, algo nunca mostrado em live action. Muito bom! E o segundo é ouvir o tema imortal de John Williams de 1978. Putzgrila! Meu coração de 45 anos bateu como se ainda tivesse 6. Isso só o cinema faz por você. Temos Superman, o ícone inspirador que agora dá entrevistas para crianças com smartphones, mas que ainda volta à fazenda dos Kent´s está de volta. Como disse Aquaman, a morte sempre nos tira algo. E a morte tirou do Homem de Aço aquela escuridão dos dois primeiros filmes. A DC começa a achar seu rumo nos cinemas que, pasmem, é semelhante aos desenhos e quadrinhos.
          Por fim, mas não menos importante, conhecemos a nova versão de Aquaman! Não, Bruce, ele não fala com peixes, mas fala bem com a nova geração e vem meio badboy, mas sem deixar a amargura (abandonado pela mãe, meio atlante etc) predominar sobre sua presença positiva na tela. É uma personagem que chama a ação para si e Momoa parece bem à vontade no papel. Dá para fazer um filme "Aquaman: Ragnarok" fácil com ele. Sua melhor cena para mim, no entanto, é a em que ele discursa em contato com o laço da Mulher Maravilha. Muito bom!
          Concluindo, o filme é um acerto de rumo bom para o Universo DC no cinema, consegue unir os heróis de forma crível, acerta muitas bobagens dos filmes anteriores, mas podia ter um vilão bem melhor. Não vou falar sobre gráficos, mas volto a apontar o acerto nas escolhas de Denny Elfman que podia ser ainda mais corajoso e colocar o tema do desenho da Liga em algum ponto do filme. Faltou também uma mensagem no longa, mas a proposta dele é ser um blockbuster pipoca, então vou relevar desta vez. Uma boa diversão. Além do mais... gente, tem o Superman, o Batman e a Mulher Maravilha! Que nota daria? Bom, de 0 a 5 vale um 3,5 com louvor. Minha esperança neste universo foi renovada.


quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Era Verdade

  Nem só sobre a Tropa e a Legião Estelar são meus contos. Para um concurso de contos produzi este texto inspirado nos "Exilados de Capela". O texto é totalmente ficcional.


Era Verdade


  Era verdade. Era tudo verdade! O fim do mundo, o dia do juízo final veio exatamente como profetizado, filmado e propagandeado! Cem anos depois da Grande Guerra, as mudanças climáticas vieram. Nós achamos que fosse uma conseqüência de nosso desleixo com o meio ambiente e até fingimos que iríamos resolver isso, mas era algo ainda mais aterrador... Oh! O desespero. O pânico. A insanidade! A desgraça...
  Fomos avisados por nossos meios tecnológicos, é claro. Eles nunca nos falharam, certo? Como éramos espertos! Apertamos nossos botões e enviamos nossos artefatos destrutivos contra o invasor, mas mesmo nosso tão terrível poder de aniquilamento foi insuficiente para parar o astro vil. Tecnicamente ele passou “ao lado” do nosso planeta. Não foi nem um “raspão”, mas o maldito asteroide desestruturou toda a vida. O eixo mudou, o clima enlouqueceu, o mar subiu e nossa estrela, antes fonte de luz e calor, passou a queimar a tudo e a todos. Foi... foi... foi mil vezes pior do que qualquer pesadelo sobre o inferno e a danação.
  Olho pela janela e vejo a fumaça de centenas de vulcões descomunais cobrindo os céus e impedindo-me de acompanhar o que ocorre na crosta. Estamos muito, muito alto. Daqui vejo todo meu mundo. Daqui, desta sei-lá-o-quê espacial. Há! Nem sei como cheguei aqui, quanto mais o que é isso aqui. Lembro das trevas, da sensação de vazio... e então de acordar aqui, no meio dessa multidão de desconhecidos. Quantos somos aqui? Quem liga? Nossa, essa teria sido uma experiência terrível se eu já não estivesse vindo daquela loucura sangrenta lá embaixo. Depois de ver tantas mortes e de ter sofrido com a desesperante falta de ar do afogamento... isso... lembro disso também... Bom, o que importa é que vir pra cá não foi nada traumatizante. Lógico que também não é nenhum hotel de primeira classe. Isso aqui tem que melhorar muito para ficar péssimo! Afinal, quem se sente bem cercado por lunáticos?
  Vou acompanhando a grande janela sem conseguir desgrudar os olhos do planeta em que vivi. Era uma bela droga de mundo, mas era o meu mundo! E aquela porcaria de pedregulho não tinha o direito de... Gente! Outro demente querendo que eu reze. Esses fracos religiosos me dão repulsa. Todos metidos a certinhos seguidores de regras só porque têm medo do “castigo eterno”. Balela... Aliás, uma das correntes que aqui encontrei defende justamente que morremos e estamos em algum tipo de plano astral intermediário ou qualquer praga dessas. Essas nomenclaturas religiosas nunca foram meu forte. Morto, eu? Estou bem vivo aqui nesta... sala? É. Olhando em volta rio sozinho, lembrando de imediato da outra teoria popular entre meus colegas de clausura. Gente! Eles acham que fomos abduzidos por alienígenas que vieram nos salvar do fim do mundo! Pobres tolos... Pelo menos são criativos...
  De repente, o vozerio conturbado e ensurdecedor cessa por completo. Todas as cabeças se voltam para a única porta do salão que até então permanecia fechada. A expectativa é grande entre todos, mas para a decepção de muitos, entra na sala justamente o que eu esperava ver. Sim, era um homem normal como todos nós. Não era nem um aliem nem um anjo. Apenas um senhor com boa aparência e o semblante sério. Estava bem vestido, com sua manta bem passada e seus braceletes indicando que já passava dos setenta anos. Era forte para sua idade, com seus tentáculos num tom azul bem claro, o que demonstrava também sua linhagem nobre. Com certeza algum político eminente. Como eu nunca me liguei em política, nunca o tinha visto.
Eu já esperava algo assim, com certeza estávamos em alguma nau montada para preservar nossa espécie. Certo de minha razão, voltei a olhar a grande janela deixando-me fascinar pela visão quase hipnótica do grande globo no espaço. Ignorei totalmente o discurso que o político estava fazendo para a plebe que o ouvia em silêncio. Abaixo de nós, o continente extremo-oriental afundava engolfado pelo mar...
  Após uns quinze ou vinte minutos algo ocorreu. Algo estranho o suficiente para me tirar do transe em que estava. Relembrava triste alguns momentos da minha vida quando “aquilo” entrou no recinto. Algo brilhante e quente adentrou no salão iluminando-nos a todos. Muitos dos meus “colegas” ajoelharam-se sobre as patas dianteiras, apatetados. Eu normalmente riria da situação, mas uma incomum sensação de seriedade tomou conta de mim. Surpreendi-me olhando fixamente para o foco de luz amarelo-azulada que posicionou-se no centro do recinto. Sua luz não ofuscava minha vista. Esqueci totalmente do que quer que estivesse pensando e fixei o olho naquela aparição.
Pelas caras de meus companheiros, vi que foi uma surpresa para todos quando a voz dele surgiu em nossas mentes. Era uma voz clara, branda e solene. E, conforme ele ia falando, figuras formavam-se em minha mente, tornando impossível não entender cada intenção daquela luz. Definitivamente eu havia pirado.
  “Irmãos, venho aqui pessoalmente para recebê-los. Sei que estão perdidos e confusos, mas a paz chegará para vossos corações. Atentem para seu antigo lar – vi então a cena de uma lavoura formar-se. – Nele, vocês evoluíram e prosperaram. No caminho de seu progresso, tiveram diversas oportunidades de aperfeiçoamento e, no campo intelectual, as aproveitaram bem. Infelizmente, alguns não entenderam que a sabedoria era tão fundamental quanto o saber, e no campo moral a evolução foi pequena. No último século, chafurdaram-se na lama do ódio, inalaram o gás mortal do orgulho e tomaram a longos goles o veneno da vaidade – formaram-se imagens terríveis de guerra, trazendo-me emoção estranha ao peito. – Hoje, como anunciado por seus profetas, é o dia em que a semente é separada da casca. Aqueles que mais se esforçaram na direção do bem eterno, permanecerão no orbe e reconstruirão sua civilização, agora mais livres e felizes.”
Nesse momento, ele fez uma pausa e nós entendemos que nós não fazíamos parte daqueles que seguiriam mais “livres e felizes”. Uma onda de medo e autopiedade atravessou-me, pois entendi que estava entre as “cascas”, e não entre as “sementes”. Mas o terror não se apossou de mim, nem de ninguém ao redor. A voz dele voltou, agora mais mansa e próxima.
  “Sim, estão certos. Estão deixando o mundo que conheciam. Eu vim aqui para recebê-los em sua nova morada. Não, não vos lamenteis. O que colhem hoje, por vós mesmos foi plantado. – nesse momento uma imagem alienígena formou-se. Vi estranhos seres visivelmente primitivos saindo de estranhas cavernas minerais. Seres bípedes, com apenas dois tentáculos e cobertos de pêlos infestavam um lugar paradisíaco de beleza natural exuberante. – Levarei-os para um novo orbe, onde sua inteligência e cultura em muito serão úteis aos jovens irmãos que lá habitam.”
Nova pausa e nova náusea. Sou gerente de redes sem fio... O que eu ia fazer no meio do mato com aqueles... aqueles animais? A proposta em si era absurda! Baixei a cabeça e, notando algo com minha visão periférica, virei-me para a grande janela para, horrorizado, perceber que outro mundo estava lá fora. Nosso mundo vermelho havia desaparecido! Em seu lugar estava um mundo azul, com um satélite branco... Possuía também mar e continentes, mas as formas e cores eram... erradas! Como viver ali? Que ar azulado era aquele? Havia formações gasosas brancas encobrindo parte da crosta, dando um ar ainda mais alienígena ao estranho globo. Ele então voltou a falar.
  “Irmãos, nada de tristeza. Vocês descerão entre eles como iguais e serão sempre auxiliados na tarefa iluminada que os aguarda. Não se julguem abandonados. Amigos zelarão por vós em todos os momentos e eu mesmo descerei à crosta em tempo oportuno. Não se enganem, não há qualquer castigo nessa situação. Aqui, apenas estamos a lhes dar nova chance de acerto e correção de atitudes. E que melhor maneira de fazê-lo, do que em aproveitamento também destes nossos irmãos que tanto aproveitarão tal oportunidade? Entendam a obra que se lhes apresenta, para não falirem novamente como já o fizeram em seu orbe natal.”
  A luz, ainda sem nome para nós, expandiu-se e uma sensação indescritível tomou conta de mim. Nunca fui sentimental, mas um calor fraterno me “acariciou” no âmago de meu ser e me comovi. Eu, Idgar Rorhi, me comovi. Naquele instante me senti confortável, aquecido e... amado.  Dei nova olhada para o mundo selvagem que me aguardava e, talvez pela primeira vez na vida, aceitei meu destino.


terça-feira, 14 de novembro de 2017

Conto Original - Tropa Estelar

  Em 1995, quando ainda morava em Santiago - RS, tinha um grupo de amigos que jogavam RPG em minha casa. Tínhamos até nome, éramos a "Tarrasquemania" com direito a camisa do grupo e tudo mais. Após o grupo chegar ao 15° nível de experiência em "Advanced Dungeons and Dragons - Second Edition" decidi criar um sistema próprio com temática de ficção científica. Ainda tenho os arquivos escritos em Word 2.0 com esse RPG que recebeu o nome de Tropas Estelares. Nesse material, para dar o ritmo e o tema do jogo, incluí um conto. Era algo com viagem no tempo, jornada do herói e tiros. Esse mesmo texto foi a origem do meu primeiro livro "Gênese - Legião Estelar" de 2003. Segue abaixo o texto original do conto:


Pela verdade e pela vida

  É difícil acreditar no que aconteceu. Se eu soubesse o que viria pela frente, não sei se seria voluntário para a viagem. Quando Risc me falou da máquina e da chance de mudar toda aquela realidade negra e desoladora eu o chamei de louco e quis ignorá-lo. Mas ele estava totalmente são, e acabou me convencendo a, nos últimos dias de Kaird, segui-lo até seu laboratório. E lá estava a máquina. "A salvação do universo", dizia ele. Uma parafernália feita de sucatas e ligada a um dispositivo nuclear. Voltei a chamá-lo de doido e perguntei onde ele estava com a cabeça para, a 72 horas do fim do planeta, me trazer para ver uma bomba nuclear. Mas não era uma bomba, era... Por Gn! Era um dispositivo temporal capacitado para uma única viagem e capaz de levar apenas uma pessoa. Ele começou a explicar apressado e por palavras rebuscadas a sua teoria sobre o tempo não linear. Eu confesso que até hoje não sei o que ele disse, mas entendi o seu intento: Mandar-me para o passado para evitar que os jacais derrubassem os antigos zanires. Era muita loucura junta! Todo o universo sendo tragado pela morte negra e um velho maluco com um dispositivo nuclear caseiro! Mas eu era um ser desenganado com o futuro, e o velho me dava esperanças de salvar toda a realidade conhecida. Sentei e resolvi entender o que ele tentava exaustivamente dizer. Foi então que ele me explicou que, antes dos jacais tomarem o poder, os planetas eram governados por zanires pacíficos, que só se interessavam por política e lucros monetários. Bem diferentes dos jacais que, depois de conquistar, escravizar e explorar mais de duzentos planetas, começaram a sonhar com a conquista do universo e acabaram desencadeando o efeito dimensional que agora destruía todo o cosmo. Ignorantes gananciosos! Destruíram o que queriam dominar... Afinal, para que mexer no equilíbrio multidimensional?
  Depois de muitas explicações, finalmente entendi que ele queria que eu avisasse a um tal de Ken, o último zanir dos Kariles, quando e como seria o golpe de estado dos jacais que já estavam infiltrados em seus domínios. Mas, se eu nem sabia da existência desse tal zanir, como é que Risc sabia da data e dos detalhes dessa tomada do poder que teria acontecido no mês das brumas do ano 5.037? Afinal, estamos em 5.152 e não há jornais ou livros desde a "queimada de informações públicas"... Foi então que ele me deu o diário de seu pai que, segundo ele, participara desse golpe! Risc era filho de um dos traidores do zanir, um traidor da própria vida! Uma repulsa quase me dominou, mas consegui manter a calma ao ver as lágrimas azuis rolando pelo rosto de Risc e perceber que talvez houvesse uma chance de vida para toda a existência! Perguntei o que tinha que fazer e a resposta veio entre espasmos de choro: "Vá, volte à época em que a liberdade ainda existia e evite que os jacais tomem o poder em Kaird. Este foi o primeiro planeta a cair em desgraça. Leve o diário e consulte-o para saber como evitar a derrocada do imperador Ken". Sentei no assento de alumínio e fiz a minha última pergunta a Risc: "Por que eu?". A resposta foi seca: "Leia o diário". Então tudo ficou negro e eu me rendi à inconsciência.
  Acordei sentado em um sofá. Corri para a janela e não contive um grito de alegria quando vi as moradias intactas e o povo nas ruas... Logo reconheci o local. Estava na casa de Risc, o que me deu a instantânea ideia de matar seu pai. Mas a moradia estava vazia e aparentava estar abandonada a alguns dias. Para sair tive de arrombar a porta da casa. Mas assim que pus os pés para fora da casa tive vontade de morrer. Vi uma nave com a bandeira jacal descendo no palácio imperial. Em desespero, perguntei ao primeiro que passou o porquê daquele abuso! A resposta queimou meu peito: "Onde você estava? Têner tomou o poder a duas semanas. Nosso imperador está preso nas masmorras do palácio e o exército de Kaird teve de entregar suas armas para que o imperador e a imperatriz não fossem queimados na praça da desonra! Por Gn e Ginai, todos sabem disso!". Perguntei a data em que estávamos e, depois de ouvir muitas ofensas, descobri que estava três semanas depois da data que Risc tinha me dito. Ele errou algo. Aquele filho de um traidor tinha errado alguma coisa!
  Carrego meu fuzil enquanto meu avô não chega... Lembro a primeira vez que o vi, descendo de seu cruzador no meio do jardim imperial. Têner, o jacal karile. O dono supremo do Planeta Kaird! Tive que vê-lo destruir a crença que meu povo tinha em honra e justiça. E não era só em Kaird, na semana que se seguiu os jornais anunciaram a tomada de vinte planetas vizinhos. Quando o Planeta Lar caiu, as últimas esperanças de resistência se dissiparam como fumaça em um vendaval. Mas eu não tinha ficado parado. Em Kaird seria impossível derrubar o jacal, mas no Planeta Lar a coisa era diferente, diferente dos kariles, os humanos não costumavam obedecer às ordens de seus governantes. Viajei clandestinamente em um voo de suprimentos e cheguei ao planeta humano. Duas quadras após sair furtivamente da nave, fui abordado por uma gangue de assaltantes altamente bem armados. Matei dois instantaneamente com meus ferrões e, com os corpos ainda fincados nos punhos, usei-os como escudos. A reação foi a gargalhada do líder deles, que perguntou quem era eu. Apresentei-me a ele e lhe expliquei meu intento: Entrar como cozinheiro na nave de diversões que levaria a comida e as fêmeas para a festa de vitória que aconteceria amanhã à tarde no palácio do alvorecer e matar o jacal humano. Ele deu uma nova risada e afirmou que eu estava alucinando. Disse que não haveria festa amanhã, que não houve vitória alguma! Apontou sua metralhadora para mim e ia puxando o gatilho quando um holovisor da loja à nossa frente, num boletim de última hora, descrevia a destruição do último foco da resistência humana contra Weider, o jacal humano. Gn estava do meu lado! O líder da quadrilha, a qual já me cercara e retirara seus companheiros de meus ferrões, baixou a arma e me fitou por um longo tempo. Entregou a metralhadora a um de seus homens, ergueu a mão direita e disse: "Muito bem, cara de grilo, quantos homens você acha que conseguem se passar por cozinheiros sem chamar atenção?". Ergui minha garra, ainda manchada de sangue e, apertando sua mão com firmeza, respondi: "Dois". E ele, com um sorriso metálico, disse que assim seria. Iríamos os dois.
  A festa estava bem animada. A comida que compramos pronta parecia satisfazer os políticos humanos, mas levou quase uma hora até que o primeiro caísse com o entorpecente que colocamos no vinho. Como haviam se descuidado! Ninguém notou que nossos crachás de segurança eram falsos! Marcus me perguntou o que faríamos agora e eu respondi sorrindo: "Vamos chamar a imprensa!". Quando os meios de comunicação chegaram, encontraram os políticos acordando e a cabeça do jacal em cima de uma grande bandeja dourada na mesa principal. É claro que deixamos um bilhetinho: "Esta festa comemora a primeira vitória da justiça! O fim dos jacais é uma questão de tempo!". Outro jacal ocupou o lugar do falecido Weider e explodiu um bairro inteiro como represália ao atentado. Mas não podíamos parar, começamos as sabotagens e, duas semanas depois, explodimos a fábrica de armamento usada pela tropa jacal. Desta vez foi uma cidade humana que foi pelos ares em represália aos meus quinze homens. Eu precisava de mais poder! Marcus espalhou a notícia de que todas as gangues da cidade deveriam reunir-se na galeria principal do sistema de esgoto da cidade. Às duas da manhã eu subi a um pódio improvisado e, num rápido discurso, convidei todos a largarem a vida infrutífera que levavam e seguir-me na salvação do universo. A reação foi violentamente contrária, ameaçaram me linchar, e, quando meus homens já levantavam as armas para me defender eu gritei: "Estúpidos, eu estou lhes oferecendo um ideal decente!". O tiroteio começou e só eu e Marcus sobrevivemos. Sem homens, Marcus me seguia cada vez mais taciturno. Chegou nas ruas uma notícia interessante. Dizia-se que Castro, o rei das gangues, reuniria toda a escória das ruas no ferro velho da capital. Eu sabia, por meio do diário, que Castro estava na folha de pagamento dos jacais. Eu não poderia ignorar essa reunião...
  Marcus não concordou com meu plano e seguiu seu caminho. Mesmo só, fui até o ferro velho. Castro era um ciborgue, a única coisa que ainda não era sintética em seu corpo era a cabeça. Devia ter quase três metros e usava uma roupa de couro negra com correntes espalhadas pelo corpo. Até eu me impressionei, imagine então essa juventude inexperiente, sem fé no futuro e desesperados por uma força qualquer que os protegesse, que fosse mais forte que o sistema podre que os rodeava... O ciborgue gritava com a voz eletronicamente aumentada: "Eu sou o poder! Eu sou a salvação! Eu os conduzirei ao prazer! Não há restrições para nós! Somos jovens! Somos o futuro! Nós somos eternos! Destruam tudo! Construiremos um novo mundo com completa liberdade sexual e ideológica! Sem governo! Sem leis! Sem tristeza! Só com prazer! Eu os levarei ao paraíso! Eu sou seu Deus, eu sou imortal!". Foi aí que eu não me contive mais e expressei toda a minha forma de pensar em um discurso longo e psicologicamente trabalhado: "NÃO!!!". Fez-se o silêncio e Castro perguntou indignado: "Quem foi o cadáver que disse isso?". Quando respondi que tinha sido eu, os jovens se afastaram e abriram um caminho até seu mentor. Eu realmente entendia porque Marcus tinha me abandonado... Era loucura... Mas eu tinha que tentar! Resoluto, dirigi-me até o ciborgue com passos decididos. Ele riu, levantou seu lança-granadas e fez mira em mim. Parei e bradei: "Ó eterno, precisas de um lança-granadas para terminar com a resistência de apenas um ser? Como és forte!". Começaram os murmúrios entre a plateia. Castro sentiu a fragilidade de seu poder, jogou sua arma ao chão e retirou o casaco, mostrando seu corpo sintético, uma verdadeira máquina de guerra repleta de servo-motores de máxima potência e chapas de aço tão resistentes quanto as mais modernas armaduras. Com um gesto, ordenou que abrissem espaço e se aproximou. A quatro passos de mim começou a falar de novo: “Ora, o que temos aqui? Um alienígena metido a profeta! Pensei que tinha sido pulverizado naquele seu discurso pacifista pela justiça! O que veio fazer aqui? Me convencer a rezar? Montar um mosteiro com todos nós? O que vocês acham?” Gritava ele para a multidão que nos rodeava. “Vamos todos orar e pedir às entidades cósmicas que espantem toda a maldade para longe de nós? Cara, eu vou te estraçalhar, e provar como acabam todos aqueles que se põe no meu caminho, no caminho dos jovens, no caminho do futuro! O que me diz disso, ô caranguejo?” Apenas pus meus ferrões para fora e assumi posição de combate. O primeiro golpe foi dele, a multidão gritava e vibrava. O casco de meu braço direito rachou. Recuei. Com uma das mãos ele quebrou meu ferrão direito, foi então que um calor subiu do meu abdômen e tomou conta de todo o corpo, eu já não pensava, apenas atacava tomado por uma fúria insana. Lembranças vinham à minha mente deixando-a como um caleidoscópio de imagens. Em meio à luta eu via minha época, o terror, a chacina de planetas inteiros, povos aniquilados para satisfazer o prazer dos jacais que se consideravam deuses... Quando dei por mim tudo era silêncio e havia um peso em minha garra esquerda. Por Gn! Eu havia perfurado suas costas em um ponto sem placas entre dois servomotores... Eu? Sim, eu. Num gesto de glória e satisfação interna, ergui Castro sobre minha cabeça e senti meu ferrão penetrar mais fundo em seu corpo.
  Joguei-o no chão e ouvi suas últimas palavras: "Estúpido, ninguém consegue deter os jacais. Voc...". Morreu. Ergui a cabeça e, ignorando minha perna esquerda que parecia quebrada, gritei: "Castro era fraco, temia os jacais! Não há realmente como um homem detê-los, mas juntos nós os faremos comer toda a sujeira que criaram! Se vocês forem covardes como Castro,  fiquem aqui e se enganem com drogas e bebidas, eu prefiro morrer lutando do que baixar a cabeça para que ela seja cortada! Eu vou lutar! Quem vem comigo?". O silêncio permaneceu e eu pensei que era o fim da minha missão quando, no meio da multidão um punho fechado se ergueu e uma voz conhecida gritou: "Eu, pela liberdade e pela justiça!". A alegria ao reconhecer Marcus só foi superada pelo orgulho que senti quando os jovens, aos poucos, foram repetindo o gesto. Quando enfim todos estavam de punhos erguidos, também ergui meu braço direito e gritei: "Pela esperança e pela vida!"
  Meu fuzil está pronto. Têner está demorando... Meu exército não sabe que estou aqui, eles só vão atacar pela manhã, a comando de Rício. Mas desta vez minha missão é outra, Têner não pode estar vivo para liderar suas tropas, pois é um renomado estrategista e pode colocar o nosso último ataque em risco. É o último jacal, a última resistência da antivida. Lembro quando meu exército tomou o Planeta Lar. Tomando posse da tecnologia humana e finalmente com uma base respeitável, em pouco tempo dominamos o Planeta Luz e, deixando os zanires depostos novamente no comando de seus planetas, partimos para o Sistema Belsion. Nosso problema era Ston, pois os crors eram um povo muito pacífico, dedicados à lavoura e à natureza. Uma atitude louvável, que foi aproveitada por Veiga, um jacal da raça fencer. Veiga escravizou os crors e divertia-se vendo-os morrer de pura tristeza. Minhas tropas eram ainda muito inexperientes no combate espacial, o que nos forçava a combater apenas em terra firme. Pousamos em Ston no hemisfério improdutivo, onde imaginei que não haveria tropas jacais. Errei feio, minhas naves foram surpreendidas por uma armada fencer. Enquanto minhas naves eram abatidas, pude verificar que a armada inimiga estava estrategicamente colocada para nos emboscar, o que afastou a hipótese de coincidência. Estava claro que havia um traidor entre nós! Ordenei que minhas naves se retirassem e aguardassem ordens no Planeta Luz. Pus um traje espacial e me equipei com capacete e jato-mochila. Programei minha nave para colidir com a nau capitânia da armada inimiga e saltei pela porta de saída. Dei sorte e minha nave pegou o piloto inimigo de surpresa. Foi uma grande explosão! Grande o bastante para me jogar à distância. Acordei jogado no chão, com o equipamento imprestável e cercado por destroços de naves. Comecei a andar sem rumo e encontrei um garimpo cror onde três fencers obrigavam uns cinquenta crors a trabalhar. Que coisa ridícula... Livrei-me do equipamento e me aproximei das dunas de minério negro. Não conseguia pensar no que fazer até uma ideia suicida passar pela minha cabeça... Joguei-me do alto da duna de carvão e caí no meio de cinco crors. A reação dos fencers foi imediata, sacaram das pistolas e começaram a descarregar em minha direção. Eu, por minha vez, me escondia atrás dos crors. Foi aí que aquelas criaturas cabeça de pedra notaram que quase não sentiam os disparos. Gritei em meio à confusão: "Seus imbecis, é muito difícil somar? Vocês são cinquenta!". Logo que me calei um cror morreu vítima de um disparo dos fencers. Pensei que estava tudo acabado, mas algo despertou dentro daquelas criaturas ingênuas. Em meio a rosnados e gritos contidos, aqueles seres rochosos, que haviam presenciado a morte estúpida de seus entes queridos, partiam em direção a seus captores. Eu quase senti pena dos fencers... Quase!
  Retiro o diário do bolso e me surpreendo em ver que em suas últimas páginas as letras estão perdendo a cor. Pouco a pouco seu texto está automaticamente sendo mudado... A natureza é perfeita. As páginas que minhas ações mudaram embranquecem, mas ainda é possível ler a parte que mais me chocou. A parte que conta como o idiota que estou aguardando confessou ao dono do diário, em meio a uma bebedeira, que havia estuprado uma de suas serventes. Um crime simples frente a tantos outros... Só que ela era minha avó, e a data em que isso aconteceria é amanhã. Destravo minha arma. Ele jamais tocará em minha avó, nem nela, nem em ninguém. O que acontecerá quando eu matar alguém diretamente ligado à minha existência? Não interessa, isso é uma questão para filósofos. O escoteiro é que gostaria disso. Escoteiro... Nunca consegui chamá-lo pelo nome. Um Draco cheio de teorias, honras e tradições. Era considerado um sábio entre os seus, o que, em parte, foi o motivo que me levou a torná-lo meu conselheiro. Mas o que realmente contou foi aquele brilho em seu olhar, ele fitava alguém como se soubesse todos os seus segredos... Nunca acreditei em poderes que não viessem dos músculos ou do coração. Pelo menos até conhecê-lo... Ele opinava sobre meus planos antes mesmo de eu proferi-los, e também localizou o traidor que havia entre nós. Mas vou morrer sem entender porque ele evitava tanto o uso da violência. O mundo era violento e os jacais não iam nos deixar em paz se nós apenas pedíssemos educadamente. Porém eu o respeitava, a ele e à sua maneira de combater de mãos limpas. Aprendi uma série de golpes fantásticos com o escoteiro, mas jamais fui capaz de dar os mais potentes, eu os achava sobrenaturais! Ele dizia que eu precisava entender a doutrina de sua arte para alcançar esses golpes. Uma história de acessar a força interior... Mas no meu interior eu só sentia o sangue correr... Sangue que pedia vingança!
  Passos. Enfim minha vítima se aproxima... A porta se abre e eu disparo assim que o reconheço. Ele é jogado para trás com a violência do disparo, mas ainda teima em viver. Com o casco peitoral minando sangue ele me fita com os olhos arregalados e, antes de tombar sem vida, pronuncia meu nome: "Guiner! Seu filho de um cão sarnent...". Gargalho do sarcasmo contido em suas últimas palavras. Filho, não. Neto! Começo a sentir meus pensamentos se esvaírem... Uma dúvida me incomodara por muito tempo, queria saber o que aconteceria a nossos mundos se outros jacais aparecessem. Mas agora, em meio a este estado de torpor que leva minha consciência, tenho certeza de que, se isso ocorrer, a natureza achará um jeito, uma forma de compensar os erros de seus filhos. E, além disso, assim como sempre haverá jacais, sempre haverá homens de ideal forte e fé na justiça, que lutarão pela verdade e pela vida.
Ideia original de Guiner


Ideia original de Guiner

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Trazendo um personagem para o mundo físico

  Segue abaixo uma experiência nascida em um auto desafio:

  A ideia foi pegar um personagem de um de meus livros e criar uma figura de ação. O processo exigiu que eu o desenhasse, o modelasse em 3D, exportasse o arquivo para uma impressora 3D, imprimisse a peça e por fim pintasse a figura. No momento em que tive a ideia já tinha alguns desenhos do protagonista do livro "Legião Estelar: Gênesis". Sentei em frente ao Maya, software 3D com que tenho maior intimidade e criei o modelo. Foi preciso um cuidado adicional para torná-lo uma peça única, sem "buracos" ou descontinuidade. Para exportar baixei um plug in próprio do Maya e logo testei o modelo no software de preparação da impressora 3D. Optei por usar uma base de madeira, que lixei e pintei. Criei uma placa com o nome em relevo também no Maya e pelo mesmo processo imprimi em 3D. Para pintura usei tinta comum para artesanato e por fim passei uma fina camada de verniz fosco. A imagem acima descreve o processo.